A endocardite mural primária é uma forma rara de infecção intracardíaca que ocorre nas superfícies endocárdicas, independentemente do envolvimento valvar sistêmico. Mais comumente, a endocardite infecciosa não valvar ocorre secundária a trombo mural infectado, dispositivos ou próteses intracardíacas, tumores cardíacos, anormalidades estruturais, incluindo defeitos congênitos.
Os fatores de riscos prévios para uma endocardite mural incluem imunossupressão, abuso de drogas intravenosas, cirurgia cardíaca e doenças crônicas.
A apresentação clínica da endocardite mural é semelhante à da endocardite valvar infecciosa. Uma endocardite mural é mais comumente causada pelas espécies Staphylococcus aureus e Streptococcus, sendo rara qualquer endocardite causada pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A, espécies de Candida e Aspergillus. O Streptococcus pyogenes é uma causa rara geral de endocardite infecciosa em qualquer faixa etária.
A endocardite mural é uma manifestação rara de infecção bacteriana ou fúngica intracardíaca que envolve o endocárdio não-valvar e pode envolver qualquer câmara cardíaca. Geralmente, uma endocardite infecciosa ocorre quando os patógenos aderem a superfícies endoteliais danificadas que são altamente trombofílicas e ativam reações pró-coagulantes, resultando em deposição de fibrina e plaquetas, formando um ninho para a adesão e o acúmulo de micro-organismos durante uma bacteremia. A formação resultante dessa placa promove o desenvolvimento de vegetações durante bacteremia transitória. Uma endocardite mural primária é uma forma rara de infecção intracardíaca que ocorre mais comumente como uma extensão de trombos murais infectados, materiais protéticos contaminados, tumores intra-cardíacos ou dispositivos eletrônicos implantáveis cardiovasculares infectados. O dano endotelial causado ser por jatos intracardíacos regurgitantes excêntricos de alta velocidade, produzidos por valvopatia atrioventricular direcionada para a parede de uma câmara cardíaca.
Como complicações potenciais da endocardite mural incluem embolização periférica, formação de abscesso e fístula, comprometimento do músculo papilar ou da coroide e perfuração cardíaca. Assim, é necessário um alto índice de suspeição de endocardite mural para o diagnóstico precoce. Dados os raros casos de endocardite mural e do envolvimento de áreas incomuns da vegetação, o diagnóstico passa a ser desafiador.
O ecocardiograma (imagem abaixo) é uma técnica principal de imagem para o diagnóstico de endocardite valvar e tem sido a principal modalidade usada para diagnosticar a maioria dos casos. A precisão diagnóstica geral da ecocardiografia no diagnóstico de endocardite mural especificamente não é clara. No entanto, a abordagem transesofágica tem taxas de sensibilidade para detecção de vegetações valvares entre 90% e 100%, sendo, portanto, a abordagem preferencial quando a ecocardiografia transtorácica não define o diagnóstico.
As diretrizes para o tratamento da endocardite valvar sugerem intervenção cirúrgica precoce quando clinicamente apropriado, mas uma escassez de dados referentes à endocardite mural limita a orientação para estratégias de tratamento recomendadas. Pacientes com grande vegetação mural, com formação de abscesso miocárdico e com doença cardíaca estrutural que resulta em propensão à infecção (isto é, aneurisma com trombose mural), tiveram subsequente deterioração clínica quando foi optado por antibioticoterapia de longo prazo. Nestes pacientes, foram realizadas vegetectomia cirúrgica ou aneurismectomia.
Portanto, a escolha entre o tratamento conservador com antibioticoterapia prolongada ou tratamento cirúrgico deve ser individualizada caso a caso.