A vitamina D é um hormônio esteroide e apresenta papel crucial no metabolismo ósseo e mineral. No entanto, parece também estar associada à fisiopatogênese de diversas doenças. Por este motivo, nos últimos anos, o papel fisiológico da vitamina D tem sido amplamente estudado. Classicamente, a mesma tem sido implicada na saúde óssea, promovendo a absorção de cálcio no intestino e a manutenção das concentrações séricas de cálcio e fosfato, assim como atua no crescimento e reorganização óssea através de sua importante ação no remodelamento ósseo.
No entanto, o interesse clínico pela vitamina D não se restringe apenas ao metabolismo fosfocálcio, mas também parece se manifestar em várias outras condições médicas (diabetes, doenças cardiovasculares, esclerose múltipla, câncer, distúrbios psiquiátricos, doenças neuromusculares). De fato, algumas evidências recentes correlacionam níveis insuficientes de vitamina D, com um risco aumentado de desenvolvimento de outras doenças não relacionadas com a componente óssea.
Evidências de efeitos extraesqueléticos de 25(OH) D incluem a desintoxicação xenobiótica, redução do estresse oxidativo, funções neuroprotetoras, defesa antimicrobiana, imunorregulação, ações antinflamatórias / antitumoral, efeitos benéficos nas doenças e neurodegenerativas e até efeitos antienvelhecimento.
Foi observado que os diferentes efeitos da vitamina D são mediados por vários receptores em diferentes localizações, que regulam diversos genes. Além dos receptores presentes no intestino e no osso, receptores de vitamina D foram identificados no cérebro, próstata, mama, cólon, células do sistema imunitário, do músculo liso vascular e em miócitos cardíacos. Sendo assim, nas últimas décadas, os benefícios clínicos da terapia com vitamina D receberam substancial atenção e os valores plasmáticos adequados de vitamina D são, portanto, fundamentais para manter uma boa saúde em geral.
Recentemente, vários estudos procuraram esclarecer a dose ideal de vitamina D ou o nível sérico necessário para promover o equilíbrio do organismo e a saúde em geral. Ao lado disso, estudos epidemiológicos demonstraram que concentrações baixas de 25-hidroxivitamina D (25 [OH] D), metabólito ativo da vitamina D, podem estar associadas a várias doenças agudas e crônicas, porém não foi estabelecida, até o momento, uma relação de causa e efeito.
A maior fonte de vitamina D é a pele, em resposta à luz solar. Apenas pequenas quantidades desta vitamina são encontradas em alguns alimentos, o que faz com que a disponibilidade da mesma na dieta seja limitada. A vitamina D, sintetizada na pele ou ingerida, é carreada na circulação por uma proteína específica (VDBP – vitamin D binding protein) e metabolizada primeiro no fígado e depois no rim.
Estudos populacionais brasileiros demonstram que a prevalência da hipovitaminose D no nosso país é elevada, assim como em diferentes regiões do mundo, principalmente em pessoas com a idade acima de 60 anos, com maior pigmentação da pele, em lugares de maior latitude, no inverno e em lugares com menor exposição solar, diante da presença de doenças crônicas, dentre outros. Devido à alta prevalência da hipovitaminose D e progresso na compreensão do metabolismo da mesma e suas ações, houve nos últimos anos um intenso debate sobre os níveis ótimos de vitamina D que assegurassem o equilíbrio da saúde óssea e dos diversos sistemas.
Os valores desta vitamina que são aceitos atualmente como indicativos de necessidade de suplementação no Brasil seguiram o posicionamento oficial da SBEM em relação à mudança dos valores de referência da 25(OH)D.
De acordo com esta entidade, ficam definidos como níveis de 25(OH)D de 20 ng/mL de suplementação de vitamina D para a população geral. Abaixo deste valor, há deficiência. Para indivíduos com fatores de risco, os valores devem ser entre 30 e 60 ng/mL. Consideram-se os indivíduos dos grupos de riscos: idosos, gestantes, lactantes, pacientes com raquitismo/osteomalácia, osteoporose, pacientes com história de quedas e fraturas, causas secundárias de osteoporose, hiperparatiroidismo, doenças inflamatórias, doenças autoimunes, doença renal crônica e síndromes de má absorção (clínicas ou pós-cirúrgicas, como a bariátrica).
Deve-se estar atento também à hipervitaminose: quando a dosagem é acima de 100ng/mL, ou seja, doses elevadas de vitamina D, há risco de toxicidade e hipercalcemia.
Referências consultadas:
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