O ecocardiograma (ECO) pode ser muito útil na sala de emergência e na unidade de terapia intensiva durante a parada cardiorrespiratória (PCR) ou na fase de peri-ressuscitação, podendo o seu uso na avaliação inicial de pacientes com hipotensão aumentar o potencial e a rapidez de percepção entre possíveis diagnósticos diferenciais, auxiliando na escolha terapêutica mais adequada.
Vem se tornando uma ferramenta importante para o monitoramento e diagnóstico de eventos potencialmente letais nos ritmos não chocáveis, principalmente devido a falha no exame físico e coleta de dados do prontuário médico durante a PCR.
Além de avaliar as possíveis causas de PCR, o ecocardiograma permite reconhecer a movimentação miocárdica real, situação conhecida como dissociação eletromecânica (DEM), ou seja, a existência de atividade elétrica na ausência de contração cardíaca associada à ausência de pulso. Pode-se ainda identificar a pseudo-DEM em que a contratilidade miocárdica está presente na vigência de atividade elétrica, mas na ausência de pulso.
A avaliação da função cardíaca, durante o atendimento do paciente em PCR, é algo de extrema importância, bem como a identificação de possíveis causas reversíveis de PCR, como o tamponamento cardíaco, a hipovolemia, o pneumotórax, por exemplo. Além disso, a ecocardiografia pode ajudar a guiar medidas terapêuticas durante a ressuscitação por causa reversível como a pericardiocentese.
A relevância desse tema na terapia intensiva, durante a ressuscitação cardiopulmonar, fez ser formulado um protocolo conhecido como protocolo FEER (focused echocardiographic evaluationin resuscitation) com a abordagem ecocardiográfica centrada no paciente crítico.
Este protocolo é composto por 4 fases principais, que englobam 10 passos divididos em 4 fases:
1° fase – Preparação paralela à RCP que deve ser realizada com maior qualidade possível:
- Manter RCP, 5 ciclos ou 02 minutos;
- Preparar o aparelho adequadamente (gel, cabos etc…);
- Avisar a equipe quem está preparado para fazer o ECO;
- Arrumar o ambiente – melhor posição do paciente e examinador, retirar roupas do paciente.
2° fase – Obter um exame de ECO em aproximadamente 5 segundos:
- Indicar alguém para contar 10 segundos enquanto se realiza o ECO e outra pessoa tenta checar pulso;
- Posicionar o probe do aparelho na região sub-xifóide, enquanto ainda ocorre a RCP e deixar claro que após este ciclo de RCP será realizado o exame;
- Tentar a janela subcostal por 3 segundos, se insucesso retornar RCP ou tentar janela paraesternal e por fim apical, mas nunca atrasando o reinício da RCP;
3° fase – Avaliar dados do ECO enquanto continua RCP:
- Imediatamente solicitar o reinício de RCP;
- Analisar os resultados.
4° fase: Resultados, seguimento e consequências:
- Comunicar os achados à equipe.
Os achados ecocardiográficos e o diagnóstico inferido estão correlacionados na tabela abaixo.
ACHADOS ECOCARDIOGRÁFICOS | DIAGNÓSTICO |
Movimento de câmara cardíaca | Circulação presente |
Importante deficiência da bomba cardíaca | Insuficiência Cardíaca (ICO?) |
Ausência de movimento cardíaco e sem ritmo detectado no ECG | Assistolia |
Ausência de movimento cardíaco e com ritmo regular detectado no ECG | Verdadeira-AESP |
Presença de movimento cardíaco e ritmo regular em ECG | Pseudo-AESP |
Hipercontratilidade ventricular, sinal do “beijo” | Hipovolemia |
Aumento de VD, sinal do D | Tromboembolismo pulmonar |
Liquido no pericárdio | Tamponamento Cardíaco |
Déficit Segmentar | Infarto Agudo do Miocárdio |
Sem dados conclusivos | Sem diagnóstico |
A ecocardiografia é importante ferramenta no atendimento da PCR não arritmogênica, devendo o intensivista e emergencista estarem atentos ao treinamento e a sua utilização sem comprometer a qualidade da ressuscitação cardiopulmonar agregando informações que possam elevar a chance de sobrevida do paciente em parada cardiorrespiratória.