A vitamina K atua como co-fator para a carboxilação de resíduos específicos de ácido glutâmico para formar o ácido gama carboxiglutâmico (Gla), aminoácido presente nos fatores de coagulação (fatores II, VII, IX e X) e que se apresenta ligado ao cálcio, podendo, ainda, regular a disposição do elemento cálcio na matriz óssea como parte da osteocalcina. A osteocalcina (proteína do osso) é uma das mais freqüentes proteínas não-colagenosas na matriz extracelular do osso. Sua dosagem no sangue constitui importante marcador biológico da atividade osteoblástica. Há evidências de que a vitamina K seja importante no desenvolvimento precoce do esqueleto e na manutenção do osso maduro sadio.
Dessa forma, um estudo dinamarquês intitulado ‘‘Osteoporotic Fractures in Patients With Atrial Fibrillation Treated With Conventional Versus Direct Anticoagulants’’ (publicado no J Am Coll Cardiol 2019;74:2150-2158) avaliou o risco de fraturas osteoporóticas em pacientes com fibrilação atrial (FA) tratados com antagonistas da vitamina K (AVKs) versus anticoagulantes orais diretos (DOACs).
Métodos:
Utilizando o registo nacional dinamarquês, os pacientes com FA foram identificados e agrupados em duas coortes com base no uso de anticoagulante: AVK (antagonistas da Vitamina K) versus DOAC (anticoagulantes Orais Diretos). Foram excluídos pacientes com uso prévio de medicamentos para osteoporose. Os resultados avaliados incluíram fratura de quadril, fratura osteoporótica maior, qualquer fratura e início de medicação para osteoporose. As proporções de risco foram ajustadas para idade, comorbidades e uso de medicamentos.
Resultados:
Entre os 37.350 pacientes do estudo, o risco padronizado de 2 anos de qualquer fratura foi menor entre os pacientes tratados com DOAC do que os pacientes tratados com AVK (3,1% vs. 3,8%). Os riscos de fratura osteoporótica maior também foram menores em pacientes com FA tratados com DOACs comparados com os AVKs.
Conclusões:
Os autores concluíram que o risco absoluto de fraturas osteoporóticas e o início de medicamentos para osteoporose foram menores entre os pacientes com FA tratados com DOACs.
Perspectiva:
O uso crônico de AVK tem sido associado com um risco aumentado de osteoporose e fraturas osteoporóticas. Isto foi sugerido devido a uma ligação entre AVK e osteocalcina, que está associada com a densidade mineral óssea. Este estudo sugere que o uso da terapia com DOACs esteja relacionado com um risco mais baixo de osteoporose e de fraturas osteoporóticas. Isso é plausível, uma vez que os medicamentos da classe dos DOACs inibem a cascata de coagulação através de mecanismos independentes da carboxilação de proteínas. Além dos outros benefícios da terapia com os DOACs (por exemplo, menor risco de hemorragia intracraniana, dosagem mais consistente), o menor risco de fratura osteoporótica pode fornecer mais evidências (embora não randomizadas) em favor do uso dos DOACs entre pacientes mais idosos com FA e alto risco de complicações embólicas.
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